Como engajar jovens em torno de assuntos de relevância mundial

April 7, 2016

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Conheça a história do Engajamundo, uma ONG que se dedica a empoderar a juventude brasileira para compreender, participar eincidir em processos políticos internacionais.

Tudo começou por causa da Rio +20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2012, no Rio de Janeiro. Na época, um grupo de estudantes de Relações Internacionais na PUC-SP, que tinha interesse pelo assunto, resolveu participar desse evento que tanto se falava na mídia. Para isso, criaram o Comitê Universitário Paulista para a Rio+20, também conhecido como CUP.

O objetivo era engajar outros jovens na pauta ambiental e ampliar o debate sobre o assunto entre os universitários da cidade. Eles conseguiram mobilizar um grupo de mais de 30 pessoas. A maior parte nunca tinha participado de um evento parecido. Isso fez com que a experiência fosse ainda mais incrível.

Foi um bombardeio de informações e um mundo completamente novo se abrindo. Eles viram jovens de várias partes do mundo participando de forma articulada, organizada e ativa nas discussões. Foi então que eles perceberam que faltava conhecimento e experiência para gerar um envolvimento dos jovens brasileiros tão aprofundado quanto o dos jovens de países do norte.

 

Daí surgiu a ideia de criar uma organização para cumprir esse papel. Ainda em 2012 , a galera do CUP mobilizou pessoas envolvidas em diferentes causas para um final de semana de debate sobre políticas internacionais. Acabava de surgir o Engajamundo, que já nasceu com a participação do grupo de pessoas que participaram da Rio +20 e liderada pelos 7 fundadores do CUP.

Hoje o Engaja tem cinco pessoas no comitê facilitador (que, como o próprio nome diz, facilita as atividades da ONG ), além de 80 voluntários em 20 estados diferentes, organizados em Articuladores e Membros. Eles já garantiram a representação do Brasil em 10 conferências, entre elas, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2014. 12 jovens do Engaja estiveram lá. Segundo eles, é a maior delegação de jovens brasileiros que já participou de uma conferência desse tipo em outro país.

“Mas como todas essas pessoas se juntaram?”, você deve estar se perguntando. Tudo aconteceu de forma muito orgânica, numa estrutura horizontal e aberta. As pessoas encontraram o Engaja na internet e em eventos, entraram em contato e se ofereceram para fazer parte da rede. Um foi chamando o outro e hoje a rede do Engaja tem mais de 700 pessoas espalhadas pelo Brasil.

Atualmente o Engaja tem como foco de trabalho quatro temas que foram propostos pelos próprios voluntários: clima, habitat, gênero e desenvolvimento sustentável. Todos eles ligados a conferências das Nações Unidas. A partir desses temas, são desenvolvidas formações, mobilizações e ações de ativismo.

E o mais legal é que eles tratam esses assuntos de um jeito #sexify.

Pra quem não conhece, o Movimento Sexify surgiu em São Paulo com o objetivo de chamar a atenção dos jovens para assuntos sérios e relevantes, por meio uma estratégia sensual e atraente. É uma forma de transformar temas?—?muitas vezes tidos como chatos – em algo divertido e interessante para o público xóvem.

A estratégia #sexify foi usada durante um Advocacy Tour em Brasília, para apresentar uma proposta de meta de redução de emissões de carbono para o Executivo e o Legislativo. O Engaja sugeriu 40% de redução das emissões até 2030?—?em relação a 1990. Eles chegaram a esse número durante um evento realizado em julho, na FGV, em São Paulo, durante o qual o assunto foi discutido em conjunto com a sociedade civil, o setor privado e o governo.

Entenda

O que é Advocacy?

De acordo com a Wikipedia, Advocacy é uma prática política levada a cabo por indivíduo, organização ou grupo de pressão, no interior das instituições do sistema político, com a finalidade influenciar a formulação de políticas e a alocação de recursos públicos. A advocacy pode incluir inúmeras atividades, tais como campanhas por meio da imprensa, promoção de eventos públicos, comissionamento e publicação de estudos, pesquisas e documentos para servir aos seus objetivos.

As fotos abaixo foram tiradas durante o Advocacy Tour, em setembro deste ano. 10 jovens de oito estados do Brasil realizaram reuniões em oito ministérios do Governo Federal, além de encontros com senadores e deputados. Sempre falando de assuntos sérios, mas sem perder a sensualidade.

O próximo desafio do comitê facilitador é conseguir criar uma rede mais sólida e conectada entre todas as pessoas que fazem parte do Engaja espalhadas pelo Brasil. Uma maneira de manter todo esse pessoal na mesma sintonia são os Encontros Nacionais. Já foram realizadas duas edições. Mas só os encontros já não são suficientes.

A ideia agora é desenvolver núcleos regionais para dar suporte aos núcleos locais. O objetivo é visitar 10 cidades brasileiras, cobrindo todas as regiões do país, para fazer um planejamento e estreitar os laços com os voluntários, dando mais autonomia e empoderando os núcleos para criar ações de forma independente.

 

Uma das integrantes do comitê facilitador é a Amanda Segnini, que está no Engaja desde o começo?—?além da Amanda o comitê é formado pela Raquel, Débora Leão e Dari, que estavam entre os sete primeiros fundadores e a Débora Souza, que junto com a Amanda fez parte do processo desde o início. A Mands, como é chamada pelos amigos, é fellow da pós em Gestão de Inovação Social do Amani Institute. Ela buscou o curso justamente porque queria se aprofundar em gestão de negócios sociais, aprendendo com casos que faziam sentido para a organização onde ela trabalha. O curso está ajudando a Amanda e o Engaja a estruturar o projeto dos núcleos regionais.

Antes de encontrar o Amani, ela chegou a começar um outro curso numa instituição reconhecida em São Paulo, também com o objetivo de ganhar mais bagagem para gerenciar a ONG (e de permanecer morando em SP). Mas ela foi percebendo que o foco era mais em finanças e business. As pessoas não entendiam muito bem o que era o Engaja e o ambiente era bastante competitivo. No segundo trimestre de aula ela passou a não ver mais sentido naquilo. A combinação disso com outros fatores acabou refletindo na saúde dela.

Depois de passar por uma crise (que incluiu um ataque de ansiedade que a fez parar no hospital), Amanda resolveu abrir pra família que não queria mais fazer aquele curso. E que estava participando de uma seleção para uma pós no Amani Institute. Foi necessário um processo de catarse pra colocar tudo pra fora. No fim das contas, a família entendeu e apoiou a escolha da Mands de largar um curso e começar um outro, mais conectado com os objetivos dela.

A Amanda está no Engaja desde o começo e sempre se interessou por assuntos de relevância mundial, por isso estudou Relações Internacionais e participou da Aiesec (rede global de jovens que desenvolve liderança por meio de trabalho dentro da organização e de intercâmbios profissionais). Segundo ela, uma das maiores dificuldades no processo de criação do Engaja foi grana?—?pra ONG e consequentemente pra ela. O Engaja nasceu de uma festa para arrecadar fundos. Fora isso, eles passaram um bom tempo sem outra fonte de receita e sofrendo com isso.

“Durante um ano e meio todo mundo trabalhou de graça. A gente não tinha dinheiro pra fazer projetos.”

Explicar pra família que você está trabalhando de graça para tornar o mundo mais sustentável é muito difícil. Por isso, em paralelo ao Engaja, ela fez uns trabalhos temporários em outras organizações pra dar um fôlego nas finanças. E o que fez a Amanda não desistir é algo que dinheiro nenhum paga.

Mais do que mudar o mundo, torná-lo mais sustentável, o Engaja muda a vida das pessoas. Existe uma conexão que une todos eles, um desejo em comum de lutar por algo maior. Isso acaba gerando um impacto não só no mundo, mas dentro das próprias pessoas também. E aí aparece uma outra dificuldade do Engaja, segundo a Mands: comunicar todas as coisas legais que eles fazem.

São várias historias maravilhosas que nós não sabemos como comunicar pra outras pessoas. Além disso, um dos nossos objetivos é conscientizar mais jovens, mas existe uma dificuldade no “como fazer isso”. O nosso objetivo é que cada vez mais pessoas saibam que as conferencias estão acontecendo e que o que está sendo discutido lá vai impactar no futuro.

A Amanda fez questão de ressaltar que eles chegaram onde chegaram por causa das parcerias estabelecidas ao longo do tempo. O Engaja sempre trabalhou sem esperar nada em troca. Desde o CUP, foram estabelecidas parcerias com pessoas que fazem parte do trabalho deles até hoje. Várias pessoas que ajudaram antes mesmo do Engaja existir, no final de semana de imersão que eu falei lá no começo do texto, continuam participando até hoje como conselheiros, por exemplo.

Tudo foi de graça no início: identidade visual, material de comunicação… E quando eles conseguiram as primeiras granas, fizeram questão de chamar os mesmos fornecedores que ajudaram no começo para solicitar outros serviços, desta vez de forma remunerada.

Hoje eles têm parcerias com instituições como WWF e ONU Habitat. A WWF, inclusive, foi o primeiro e é o maior apoiador do Engaja ?

Depois de toda essa história você ficou com vontade de participar e ser um ativista? No dia 29 de novembro, na Paulista, vai ter a Mobilização Mundial pelo Clima. O Engaja está ajudando a organizar, junto com Avaaz, Greenpeace e mais de 70 coletivos que já assinaram o chamado para a ação. É uma ótima oportunidade para conhecer de perto como funciona. Se você estiver em São Paulo, cola na Paulista 😉

Gostou tanto da história e quer fazer parte da rede do Engaja? Para ser um voluntário você deve ter de 15 a 29 anos, ter vontade e disposição para se envolver com temas de relevância nacional e não ter medo de colocar a mão na massa. Se você já tem mais de 29 anos, não tem problema. Você pode fazer parte da rede do Engaja. Para saber mais, visite o site do Engaja aqui.

Tainá Costa

Nov 20, 2015

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